Esta história passou-se mesmo e se houver ficção parecida com este trecho de realidade é mera coincidência.
O dia despertava e como que maquinalmente as almas abandonavam os corpos e obrigavam-nos a deslocar-se para os empregos.
Num canto da esplanada, com umas peúgas brancas a espreitar entre os sapatos e as calças zangadas com estes, um homem, dos seus quarenta anos, observava com ar de felino, o carro dos cachorros quentes, estacionado junto á calçada. Quem passava nem reparava em tal personagem mas ele era mesmo isso discreto e eficaz.
Para que conste todos o chamam Ramalho mas o seu nome verdadeiro é António Bernardo da Silva Ramos.
José Bonifácio nunca lhe puxou para estudar, agora com trinta e cinco anos, como diz o povo, torce a orelha mas já não deita sangue. Vá lá herdou do tio afastado aquele carrinho de cachorros com o qual se sustenta.
Ás 10h46 em ponto ligou o rádio a pilhas que trazia pendurado no carro dos cachorros quentes, com uns atacadores já gastos. Como que impulsionado por uma mola invisível Ramos saltou do seu canto na direcção de Bonifácio.
- Bons dias! Senhor vendedor – com um gesto suave apresentou a sua identificação de fiscal da SPA – Pode amostrar-me a licencita que lhe aufere o direito de passar música em publico.
- Desculpe mas não entendi? – Respondeu o Bonifácio enquanto corava como um tomate - A licença de vendas está aqui na carteira, essa que disse desconheço.
- O senhor não sabe que para passar música em publico tem que pagar?
- Desconheço, mas se é por isso desligo já a telefonia. – Estica a mão e desliga o rádio.
- Pois, mas agora já é tarde, vai ter que levar com a bucha, desta vez vai pagar 250€ e da próxima é a dobrar.
- Direitos de autor o c… - saca de uma beretta que tinha escondida na bota, Ramalho ao ver o cano da arma tão próximo do nariz, saltou para traz e correu como um autentico Carlos Lopes paro o mais longe que as pernas lhe permitiram.
Ainda esbaforido deu consigo no meio de um campo verde, ao longe ouviu alguem a assobiar uma musica que lhe pareceu conhecida, claro é do Marco Paulo - pensou - Só telefonei para dizer, naa naaa naaa, é mais ou menos isso .
Rastejou ao longo da ribeira e de um salto apareceu á frente de um pastor que apascentava as suas ovelhas - Ó homem, você pregou-me cá um susto que me ia deixando gago.
- Pois é, pois é – foi-se limpando e ao mesmo tempo dizia – o meu amigo tem consigo a licença passada pela Sociedade Portuguesa de Autores para poder trautear essas músicas do grande Marco Paulo? – Ficou a aguardar uma resposta, como o pastor estava boquiaberto continuou – fica o meu amigo a saber que para animar o seu gado com música que o senhor não escreveu tem que pagar os direitos a quem teve o trabalho…
- Espere lá! Estava aqui a pensar mas olhe que as modas que o João Simão canta são quase todas covers e esta até é daquele moço que é cego…o Stevie Wonder.
- É Esteves Ondas e faz couves faz! Não apresente o papel que eu mostro-lhe já como elas mordem...
- Ainda bem que o refere, mas por obsequio quer ir embora ou atiço-lhe os cães?
- Chamou-me o quê? Obsequio? Isso é o senhor e a sua família.
- Nietzsche ataca! – Gritou para um enorme cão da serra.
Ó pernas para que vos quero… ainda hoje se procura este fiscal da SPA e dão-se alvíssaras a quem souber do seu paradeiro, é que ainda há comissões para ele receber.
O dia despertava e como que maquinalmente as almas abandonavam os corpos e obrigavam-nos a deslocar-se para os empregos.
Num canto da esplanada, com umas peúgas brancas a espreitar entre os sapatos e as calças zangadas com estes, um homem, dos seus quarenta anos, observava com ar de felino, o carro dos cachorros quentes, estacionado junto á calçada. Quem passava nem reparava em tal personagem mas ele era mesmo isso discreto e eficaz.
Para que conste todos o chamam Ramalho mas o seu nome verdadeiro é António Bernardo da Silva Ramos.
José Bonifácio nunca lhe puxou para estudar, agora com trinta e cinco anos, como diz o povo, torce a orelha mas já não deita sangue. Vá lá herdou do tio afastado aquele carrinho de cachorros com o qual se sustenta.
Ás 10h46 em ponto ligou o rádio a pilhas que trazia pendurado no carro dos cachorros quentes, com uns atacadores já gastos. Como que impulsionado por uma mola invisível Ramos saltou do seu canto na direcção de Bonifácio.
- Bons dias! Senhor vendedor – com um gesto suave apresentou a sua identificação de fiscal da SPA – Pode amostrar-me a licencita que lhe aufere o direito de passar música em publico.
- Desculpe mas não entendi? – Respondeu o Bonifácio enquanto corava como um tomate - A licença de vendas está aqui na carteira, essa que disse desconheço.
- O senhor não sabe que para passar música em publico tem que pagar?
- Desconheço, mas se é por isso desligo já a telefonia. – Estica a mão e desliga o rádio.
- Pois, mas agora já é tarde, vai ter que levar com a bucha, desta vez vai pagar 250€ e da próxima é a dobrar.
- Direitos de autor o c… - saca de uma beretta que tinha escondida na bota, Ramalho ao ver o cano da arma tão próximo do nariz, saltou para traz e correu como um autentico Carlos Lopes paro o mais longe que as pernas lhe permitiram.
Ainda esbaforido deu consigo no meio de um campo verde, ao longe ouviu alguem a assobiar uma musica que lhe pareceu conhecida, claro é do Marco Paulo - pensou - Só telefonei para dizer, naa naaa naaa, é mais ou menos isso .
Rastejou ao longo da ribeira e de um salto apareceu á frente de um pastor que apascentava as suas ovelhas - Ó homem, você pregou-me cá um susto que me ia deixando gago.
- Pois é, pois é – foi-se limpando e ao mesmo tempo dizia – o meu amigo tem consigo a licença passada pela Sociedade Portuguesa de Autores para poder trautear essas músicas do grande Marco Paulo? – Ficou a aguardar uma resposta, como o pastor estava boquiaberto continuou – fica o meu amigo a saber que para animar o seu gado com música que o senhor não escreveu tem que pagar os direitos a quem teve o trabalho…
- Espere lá! Estava aqui a pensar mas olhe que as modas que o João Simão canta são quase todas covers e esta até é daquele moço que é cego…o Stevie Wonder.
- É Esteves Ondas e faz couves faz! Não apresente o papel que eu mostro-lhe já como elas mordem...
- Ainda bem que o refere, mas por obsequio quer ir embora ou atiço-lhe os cães?
- Chamou-me o quê? Obsequio? Isso é o senhor e a sua família.
- Nietzsche ataca! – Gritou para um enorme cão da serra.
Ó pernas para que vos quero… ainda hoje se procura este fiscal da SPA e dão-se alvíssaras a quem souber do seu paradeiro, é que ainda há comissões para ele receber.
8 comentários:
È a tal coisa, todos tentam meter a unha onde podem!!
Foi mesmo isso que aconteceu (só não sou o gajo dos cachorros nem o pastor nem sei se o gajo era o Ramalho) aproximou-se calmamente utilizou os nossos serviços como cliente durante uns cinco minutos (possivelmente para perceber melhor se estava a ouvir musica ou se era o barulho do ar condicionado) sacou do cartãozinho e disse o que contas aí! Só não passou a multa porque nos deu um prazo para comprar a licença até Segunda-Feira!!
Está fantástica a história...bem real !!! Critica bem eficaz, mordaz e oportuna ;-)
Beijinhos
Soberbo, simplesmente soberbo este trecho de prosa.
Ò North, então foi na teu estaminé que apareceu o gajo da SPA?
Então qualquer dia estarei eu numa qualquer tocata na Quinta do Castelo ou noutro sítio público qualquer e há-de aparecer um mangas da SPA a exigir a licença para que o Trio Só Falta a Mãe possa tocar e cantar...
Bem, das duas umas: ou o Sr. Morais tira a licença ou eu passo a tocar só musicas minhas e passo a cobrar à SPA aquilo qué meu, na qualidade de compositor...
GSK, este texto está fabuloso.
Só falta o Senhor da SPA, quando “ripa” o seu cartão de identificação e em voz alta dizer:
– Eu sou o senhor da SPA!,
Ao qual o senhor dos carrochos quentes responde:
- Desculpe lá meu caro, mas SPA’S para mim não, eu não me dou com essas mariquices!
Abraços
Hilariante, amigo, este trecho de uma história parva e absurda que se realiza nas esquinas deste país real.
Um abraço e boa semana
Muito divertido!
Parabéns!
Ah!!! acerio e, isso voi onde em Portugal? pois só pode ser, sei lá digo eu...
Ass. XIII a.C
Isso faz-me relembrar os meus tempos de Conjunto quando tínhamos de escrever o nome dos artistas que tocávamos, se isso fosse publicado ai meu Deus, é que era de mijar a rir.
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