No tempo em que o “ti” Alfredo Miranda bebia uma duzia de “calces dela” e comia dois maços de kentuky sem filtro, dos que não faziam mal à saúde, tambem havia compras e vendas. Por exemplo uma junta de bois custava umas quinze notas (se fosse bem negociada). O queijo do Ramirão, feito por mãos encardidas na qualhada cheia de cardo e sal valia mais que o palheto que o empurrava pela garganta.
Voltemos ao negócio, se o Chico Cego queria comprar duas vitelas para lavrar as terras, ter uns bezerritos (se não saí-se forra), fazer estrume para o cultivo, etc., tinha que poupar dinheiro durante o tempo necessário e quando fosse detentor da respectiva maquia dirigia-se á feira do gado e levava a (s) rês (es) para casa. Em suma gastava-se tempo para conseguir o dinheiro que permitia fazer a transacção comercial.
Então chegaram os bancos, carregados de cartões de crédito e créditos para gastar no que muito bem apraz ao consumidor e, os “Chicos” deixam de ter que esperar, a partir de agora os bancos disponibilizam imediatamente o valor que o cliente precisa, no fundo eles vendem tempo a um preço elevado.
O grande problema é que, quando o Chico acabar de pagar as vitelas compradas a crédito estas já estão velhas e carcomidas, deu duas vezes mais por elas (os juros até podem ser baixos mas tem que fazer um seguros para cada casco). O seu valor passa a ser muito mais baixo e para a próxima só vai poder comprar um jerico (que não dá leite).
Teso porque o tempo é muito dinheiro vai ter que casar por amor, porque interesse nela não tem nenhum.
24 novembro 2007
21 novembro 2007
Álcool ! Maldito álcool!
A Sexta-feira é o dia mais bonito para Joaquim Bernardo Bonifácio, quando acorda pela madrugada já sente o cheiro da noite, fecha os olhos, e ainda que bem acordado, sonha com o dia em vai sair da casa dos pais com uma bela namorada (não precisa ser muito bonita) que com a pele suave das mãos lhe transmite um estranho calor que nunca sentiu. Ele sabe que é mentira, na memória ainda salpica aquele beijo através porta entreaberta da adolescência na entrada para a sala de aulas. Os lábios ainda o sentem e o calor abafa-lhe a húmida respiração.
É o despertador que o atira para sexta-feira, voltara a dormitar, toma um apressado duche e aproveita para fazer a barba debaixo da água quentinha.
Como é norma nova na empresa, as sextas são para utilizar “casual wear”, poupa no fato e já não tem que voltar a casa. Ao espreitar a sua imagem no espelho sente-se um belo pedaço, só não compreende como tem 36 anos e ainda vive com os progenitores – as gajas andam cegas.
- Mamã! logo não janto em casa! – Antes de ouvir a resposta da velhota já bateu a porta e está a entrar no seu Seat Leon.
O dia, como todas as Sextas, passou a correr e ainda entorpecido pela imagem matinal da loura (ou morena) que lhe vai caber das tais sete e meia que existem para cada macho, já está a dar umas bicadas num bom tinto empurrado com uma valente posta Arouquesa.
- Como é!? Vamos á disco sacar umas malucas?
- Ya! Se não conseguirmos nada comemos o Jorge, quem não tem pelos na cara não tem noutros lados…
- Por mim tudo bem! Mas tens que arranjar uma coisa maior que essa miniatura!
- Um brinde ao tamanho senhora que cabe em todo o lado! – Berra o Joaquim Bonifácio, levantam os copos e de um golo emborcam mais um penalti.
Como previsto a grande dama não chegou até de madrugada, Joaquim Bonifácio a partir das duas da manhã trocou os gin vómito por água sem gás e ás quatro e meia começou a distribuir os companheiros pelas suas casas de solidão (podiam viver todos juntos).
Como sabia que estava com o grão na asa, Joaquim Bonifácio, circulava com precaução, sempre encostado ao seu lado da estrada e com uma velocidade que lhe dava segurança, foi sempre assim e por isso todos os colegas lhe confiavam a vida naquelas noites de desgraça.
Estava a estacionar junto a casa, a memória levou-lhe uns lábios da adolescência numa ermida e uma pedra onde sentado ia provando desses favos de mel quando um barulho ensurdecedor de pneus a chiar o fez estremecer. Tarde demais, um BMW em despiste entrou-lhe pela porta e esmigalhou-lhe as duas pernas.
Ainda viu as luzes do carro da polícia, ouviu um soldado da paz declara-lo morto, mas sobreviveu.
Soube depois que valia mais ter morrido, o jovem que bateu no seu carro e as duas namoradas tiveram morte imediata. O JR tinha carta há meio ano e o carro potente do papá, só bebia Coca-cola e Sumol, mas não tinha mãos para governar tal bomba.
O teste de álcool feito ao falecido jovem revelou 0,0 e ao grande Bonifácio 1,23, pelo que a companhia de seguros fugiu a sete pés, arcando o, agora sem membros inferiores, bebedolas com o pagamento de todas as despesas.
Joaquim Bonifácio continua a viver com os pais, tornou-se sorumbático, já não gosta de Sextas, Sábados ou Domingos, só ouve sigur rós e nunca mais ninguém lhe viu um sorriso ou um copo de vinho na mão (estão ligados).
04 novembro 2007
Feira dos Santos version fast food
Hoje, fui à Feira dos Santos acompanhado por 12 amigos sedentos de um copo de vinho carrascão (pode levar uns bagos de morangueiro para lhe dar aquele sabor estranho anti-gajos-que-sabem-muito-de-vinho-mas-cospem-no), umas batatas cozidas ao ar livre que podiam ser kennebec, Monalisa, Asterix ou ronconce (esta não sei como se escreve), o importante era mesmo o convívio a fêvera grelhada e o belo acompanhamento (mesmo do martelão que apregoa os 6 lençóis, mais 6 lenços, 1 guarda-chuva e ainda uma bolsa para a senhora e um canivete para o cavalheiro).
Pois é, mas a ideia que se tem repetido ao longo dos anos a partir deste termina, é que deparámo-nos com uma única barraca de comes-e-bebes, totalmente cheia de gente e pelo que vi de peito feito e sem medo dos nossos protectores da Asae.
Transpareceu-me, pela leitura que tenho feito nos últimos tempos, que a ideia futura é transformar estas feiras tradicionais, sem higiene e onde capotam, devido a misteriosas intoxicações alimentares, milhares de incautos cidadãos, em feiras de "fast-food" limpinhas e asseadas sem riscos para a dourada saúde de quem atafulha as veias com colesterol (bem dita seja a mulher em idade fértil).
Já me esquecia, acabámos por ir manjar à tasca da "Tia Alice" a dizer mal do sapo Kokas - não confundir com Zé Kokrates.
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