30 janeiro 2007

Não falo mais do referendo

Sei que vou levar nas orelhas de muitos dos meus amigos, mas prometo que é a ultima vez que toco no assunto.
Continuo a dizer que sou sempre pelos mais fracos (sou do SCP), defendo as mulheres mas não posso deixar de ser a favor da vida.
No próximo mês vamos referendar com um sim ou não se concordamos com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até ás 10 semanas. Mesmo as pessoas que não consideram que haja vida até 10 semanas ou mesmo até á data do nascimento deveriam ser contra esta questão e passo a explicar porquê: Se realmente for despenalizada a interrupção da gravidez os abortos sem condições em vãos de escada deixam de ser crime, os tais “pobresitos” que “tinham” que os fazer sem condições deixam de ser penalizados mas vão continuar a faze-los ás escondidas, quanto ao pessoal da nota já ia a Espanha passa apenas a ter a deslocação paga e quiçá a clínica em Portugal.
Até posso ser a favor da despenalização das mulheres que interrompem a gravidez em clínicas certificadas (publicas ou privadas) desde que se agrave as penas para quem continuar a praticar abortos na clandestinidade, não a grávida mas sim os que ganham o guito e estão a investir milhões nesta campanha.

É por causa de frases destas que tenho que defender os mais fracos que ainda nem mandam neles…

“…sobre esta questão apenas concebo uma de duas posições: ou se entende que o feto é vida humana, e nessa medida o respeito pelo direito à vida, consagrado na nossa Constituição, não pode tolerar qualquer forma arbitrária da sua eliminação o que consequentemente exige tutela penal; ou se entende que o feto não é vida e, então, nada haverá a censurar a quem pratica o aborto, muito menos por parte do Estado…”
Maria de Fátima Mata-Mouros, Juiz de direito

12 janeiro 2007

A democracia também pode ser muito perigosa


Acabei de ler o livro “Globália” de Jean-Christophe Rufin, uma fabula social de um tempo não muito distante, onde o homem (alguns) vive numa democracia tão perfeita que existem eleições para tudo e a toda a hora. Aos Globalianos nada falta, até um inimigo quase invisível é criada pelos oligarcas para que não lhes falte o medo. António, tu por lá não tinhas profissão secreta porque a história é proibida – para quê ter memória colectiva se os dias são perfeitos e repetidos ciclicamente de forma que todos andem felizes e na linha? JL, os políticos são completamente inúteis (como agora) porque quem governa são os grandes grupos económicos, os homens da politica são apenas fantoches bem pagos – não será já hoje o futuro? Não há como dar uma vista de olhos na entrevista do escritor ao Jornal de Noticias, ah e leiam o livro, porque vale mesmo a pena.

E Como nasceu esta fábula social?
A intenção era a de, um pouco à semelhança de George Orwell, escrever sobre que género de ameaça nos está destinada. O mundo de Orwell era o do estalinismo do pós- -guerra e foi a partir daí que ele ficcionou o futuro em 1984 [escrito em 1949]. Nós vivemos uma situação diferente, numa sociedade onde a liberdade está fixada como princípio fundamental, mas onde essa liberdade pode provocar uma deriva. Por outro lado, interessava-me ver em que medida a técnica do romance histórico, que utilizei em livros sobre o passado, podia ser aplicada no romance do futuro. Há uma intenção filosófica e política e uma intenção formal: fazer uma transposição do romance histórico para um romance sobre o futuro.

Falou na deriva por vezes associada à liberdade. A alienação pode estar para a democracia como a interdição está para outros regimes? É um dos seus paradoxos?
Sim. Em Globália todos os dias há uma festa. É um modo de desviar a atenção, a agressividade e o interesse para coisas que não têm importância. Da mesma maneira há um desviar de atenção das causas do medo. O resultado é um mundo de alienados.

O seu alvo é a democracia?
Não é uma crítica de princípio à democracia. Não sou contra a democracia, que isso fique claro. Mas quero falar da sua complexidade, que há coisas muito perigosas e é preciso a mesma vigilância em relação à democracia do que em relação a qualquer outro regime político. Ela também pode ser perigosa. Estava a escrever o livro no momento em que os americanos se preparavam para intervir no Iraque e, em nome da democracia, disseram muitas falsidades. A democracia por si só não nos defende dos excessos de poder. Também tem os seus perigos.

Como vê a escrita: uma forma inovadora de contar uma história?
Sou médico e sentia-me um passageiro clandestino na literatura. Comecei pelos ensaios porque me parecia menos comprometedor. Também os via como uma forma literária. Quando os escrevia, pensava em Tocqueville, em Maquiavel. Agora, o ensaio são só as ideias. Achava o romance mais ambíguo, rico. Quando me iniciei no romance, a grande surpresa foi o prazer que senti. Adoro contar histórias e aplico-me a encontrar uma forma de as escrever. Como vê, falo bastante, disperso-me, disparo em todos os sentidos e tenho necessidade de me disciplinar de modo a concentrar-me no essencial.

Disse que quando escrevia ensaios políticos pensava em Tocqueville e Maquiavel.E quando escreve romance, pensa em quem?
Situo-me na tradição do romance clássico francês. Dumas, Flaubert, Balzac... Hoje há uma espécie de snobismo em França em que o romancista quer inovar todos os dias, rompendo com a tradição. Eu não quero romper com a tradição. Quero contar uma história de forma simples - espero que com qualidade -, mas não procuro revolucionar a forma do romance.

Neste tempo futuro em que se situa a Globália, haverá espaço para o romance?
Há um lugar central. A defesa da leitura e em particular da ficção é qualquer coisa de essencial, porque é o único verdadeiro acesso individual à expressão. A única liberdade directa é escrever. A possibilidade de escrever, de escrever histórias, é verdadeiramente uma liberdade individual. O cinema já não é assim. Depende do meio, o controlo político, social. O livro é o último meio revolucionário ao alcance de todos.

07 janeiro 2007

Bom ano e votem no Sim!

Vamos ter mais um referendo acerca da despenalização do aborto. Quero deixar bem claro que eu não concordo com qualquer tipo de morte (mesmo a do ditador do Iraque), penso até, que a pena deveria ser agravada para quem pratica abortos (não para a mulher que aborta apesar de haver outros métodos anticonceptivos).

Aceito todas as opiniões, mas a desculpa de que se deixa de fazer em vãos de escada e em situações pouco higiénicas para as mulheres não me parece razão suficiente para aceitar a despenalização, se não, temos que despenalizar os assaltos – já viram as condições de trabalho dos assaltantes, sujeitos a levar um tiro, etc.

Nas situações de violação a mãe não tem culpa e nunca vai conseguir cuidar do filho fruto da violação, mas que culpa tem o filho? Criem-se bons canais para a adopção, há tanta gente a tentar adoptar crianças.
O problema, é que é mais fácil limpar-lhe o sarampo enquanto não o vemos do que depois de abrir os olhos – como os gatos.

Para terminar, eu vou votar no sim, porque se o não ganhar outra vez, daqui a dois, ou três anos, temos mais um referendo e depois outro, até o sim ganhar. Como diz o meu irmão João “estou é preocupado com o próximo referendo que deve ser o da eutanásia, e eu caminho para velho e cada vez menos produtivo”, pois é escapar até aos nove meses qualquer dia pode não chegar.

Bom ano e votem no Sim!