22 novembro 2006

"Fazes pinturas no ar..."


Um pintor deixou-me ver uma das suas primeiras obras (penso que até é a primeira) e eu não pude deixar de a apresentar a todos os visitantes desta casa.
Só escrevi pintor para ele não se babar, porque no primeiro texto tinha escrito “Um grande pintor cujo nome…” , mas como eu cortei o texto vocês vão ter que adivinhar quem é (ou pelo menos mandar uns palpites) e ao tirar o “grande” remeti-o para a categoria de qualquer artista antes ser reconhecido pelo publico.
Eu até sei o título da obra, mas vou esperar que os meus amigos lhe dêem um titulo de uma única palavra (estão caras) e deixem uma pequena (ou grande) descrição do que desperta em cada um esta pintura, por vezes os olhos dos outros destapam surpresas escondidas em recantos que nem o autor conhece.

17 novembro 2006

Acabou o desemprego!


Como prometido o Governo da nossa pátria vai diminuir drasticamente o desemprego, a formula é muito simples e esteve sempre á vista de todos, mesmo dos mais cegos. Pelo que eu tenho lido, assim que seja publicada a nova lei todo e qualquer trabalhador que receba uma justa indemnização pelo trabalho que desempenhou deixa de ter direito a ser desempregado e ao consequente subsídio de desemprego. Portanto o subsídio de desemprego vai ser só para alguns que vivem gravitando de emprego em emprego á espera que os seus contratos não sejam renovados para poderem ter umas férias prolongadas (eu conheço alguns assim) ou para quem seja despedido com justa causa, porque penso que quem trabalhar condignamente tem direito a sair do seu emprego com uma justa indemnização, mas, há sempre um mas, os nossos políticos são muito invejosos ou será a sociedade e se alguém consegue ganhar algum dinheiro numa situação trágica, como é o desemprego, essas aves de rapina vêm logo sacar-lhe as entranhas.

Portanto meus amigos, a partir do próximo ano vamos ter menos desempregados mas muito mais gente sem emprego.

07 novembro 2006

A tristeza de Lucrécia…


O frio rachava pelas goteiras, encolhida, com as pernas encostadas ao peito, ouviu o relógio da igreja gritar para a noite que eram cinco da madrugada. Que triste coincidência, o Sr. Prior tinha vindo, mais uma vez, servir-se do seu corpo para satisfazer as tentações da carne, pobre espírito. Quanto mais espezinhava e gritava – não! – mais prazer parecia dar àquela alma de diabo, nesse momentos maldizia a mãe por não ter feito um desmancho quando estava grávida dela, não a devia ter trazido ao mundo para isto, não a matou de uma vez enquanto nada sentia e castigou-a com este corpo putrefeito que agora fede àquilo a que alguns chamam amor.
Sempre que é violada deixa o maltrapilho sozinho no quarto como quem se masturba na solidão e o seu espírito vagueia por amores que nunca vai encontrar, porque não existem, mas ela nesses momentos também não, quando satisfeito o sacro (demoniaco) homem grita – Foi a tua mãe que mandou, tens que obedecer á sua ultima vontade, não te esqueças que fui eu quem a encaminhou para o céu através da oração, não queiras que ela arda no inferno por ter feito dois abortos e ter tentado o mesmo em ti.

A chuva purifica o corpo mas não há nada que lave a alma.

- Lucrécia, minha linda que te aconteceu rapariga?
- Nada, dona Purificação, nada… - com os olhos postos no chão.
- Está com a cara de quem não dormiu nada e com esses olhos tão tristes, anima-te rapariga tu és muito bonita para andares por aí assim como quem anda com o mundo ás costas.
- Tenho que lhe perguntar uma coisa… mas tenho tanto medo!
- Logo vi que havia marosca, desembucha rapariga, sabes muito bem que podes confiar em mim!
- Não tenho… mais ninguém… a quem recorrer…
- Vá lá! Não tenhas medo sou toda ouvidos.
- Tou grávida e tenho que fazer um aborto, esta criança não pode vir ao mundo!
- Porra rapariga, podias ter dito logo, quem foi o bastardo? Já falas-te com ele?
- Não posso dizer a ninguém…
- Pronto não digas, mas como sabes houve três referendos á lei do aborto, no fundo foi até o sim ganhar, eu não concordo que mates a vida que tens dentro de ti, mas se esse é o teu desejo é só dirigires-te ao teu médico de família…
- Isso é só para os ricos que antes gastavam o dinheiro nas clínicas de Espanha…
- Não minha querida, eu vejo mal por causa das malditas cataratas, mas se quiser ser operada na privada tenho que pagar do meu bolso, mas para tu abortares o estado paga tudo na clínica.
- Sim, sim na teoria é, mas na prática só aceitam quem querem, os sem condições para alimentar mais uma boca não se podem dar a esse luxo, para nos ou utilizamos o citotec ou vem mais um desgraçado ao mundo!
- Quem venha! Que eu não te posso permitir que o mates como a tua mãe te queria fazer a ti…
- Antes o tivesse feito…
- Nem o penses quanto mais dize-lo, ainda hoje vais viver para minha casa, amanhã vamos fornicar o filho da mãe que abusou de ti, ele que se ponha fino que sou capaz de lhe arrancar o apetrecho…
Dona Purificação agarrou na mão de Lucrécia e em silencio seguiram para o terço das sete, começou a chover a cântaros, Lucrécia não entrou, deixou-se ficar plantada á porta da Igreja com a esperança de que as lágrimas do céu lhe lavassem a alma e as entranhas, mas ao fim de vinte cinco anos já a pequeno aborto estava a sair da faculdade para ajudar a mãe na gestão do seu império de chinelos de dedos, construído com a ajuda de um marido de sonhos que a ajudou a criar mais quatro filhos. Ah! a dona Purificação essa não existia a Lucrécia esteve a falar com uma amiga imaginária ou seria com o seu próprio filho ainda no ventre disfarçado de mulher… o que nos faz a natureza para contrariar a morte….

02 novembro 2006

Dois dedos iguais

Em Guimarães de Tavares vive o António Anjinho, que segundo o próprio (recebeu essa informação divina transmitida pela padroeira de Portugal) nunca vai morrer porque tem dois dedos iguais – e quem tem dois dedos iguais (na mesma mão) nunca morre.
O António tem uma coisa muito boa, como é considerado retardado nunca teve que trabalhar muito, nem na lavoura para a qual só era necessário força bruta.

Antes do 25 de Abril de 1974 podia dizer mal dos governantes porque era louco e ninguém lhe ligava, agora os mais sãos da tola (não eu) já o podem fazer porque somos livres... e também porque ninguém liga.